sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

O eterno romantismo do Roupa Nova

Em Maringá, integrante da banda diz que ainda se emociona tocando ‘Whisky a Go Go’ e afirma que o grupo merece ‘um pouco mais de respeito’

Gravado no lendário estúdio Abbey Road, onde os Beatles imortalizaram a maior parte de suas canções, “Roupa Nova em Londres” é o novo disco de inéditas do sexteto carioca, que põe fim a um jejum de oito anos sem lançar um CD dedicado exclusivamente às novas composições. Na última sexta-feira (3), o grupo apresentou o show da nova turnê, em Maringá, à beira da piscina, no Country Clube.

Munida de um dos repertórios mais conhecidos do pop nacional, que conta com músicas como “Dona”, “Anjo”, “Seguindo no Trem Azul” e “Whisky a Go Go”, a banda alternou o formato do show entre o acústico e o elétrico.

Além de alguns vídeos exibidos nos telões, reunindo imagens dos músicos tocando na Inglaterra e até um boneco de placa de trânsito que interagia com a plateia, pouca coisa diferenciou a atual apresentação da banda das apresentações realizadas entre as décadas de 80 e 90. Quanto à presença de músicas novas – apenas três canções foram incluídas, o público respondeu de forma indiferente. Para recuperar o ritmo do show, os integrantes cinquentões tiveram de recorrer novamente aos sucessos românticos, executando “Sapato Velho”, “Meu Universo é Você” e “Chuva de Prata”.

No bis, o Roupa Nova se propôs a homenagear os grandes nomes da música, tocando alguns covers, em um longo pout-pourri. Misturando Bee Gees com Pink Floyd, Rolling Stones, Creedence e Guns and Roses, o Roupa Nova encerrou o show e a sua homenagem inusitada aos clássicos do rock com “Rock and Roll all Nite”, do Kiss.
Em entrevista concedida antes da passagem de som, em Maringá, o tecladista e um dos vocalistas do Roupa Nova, Ricardo Feghali, falou sobre o novo disco da banda e rechaçou o rótulo de “brega”, afirmando que o Roupa Nova merece ser tratado pela crítica com “um pouco mais de respeito”.

Qual foi a primeira sensação ao entrar no Abbey Road?

Taquicardia (risos)! Nós quase morremos do coração! Eu pensava em tudo aquilo que aconteceu lá dentro: Beatles, Rolling Stones, Pink Floyd e U2. Aí, eu falei: Pôxa, eu sou do Roupa Nova! O que eu estou fazendo aqui? O som da sala é maravilhoso, nunca foi reformada. Foi lindo, emocionante. Vocês já regravaram algumas canções dos Beatles.

Por que escolheram gravar She´s Leaving Home nesse novo disco?

A gente sempre teve uma influência muito forte dos Beatles. Nos shows do acústico um, incluímos “Hey Jude” e “Yesterday”. No Roupa Nova, todas as decisões são votadas: a maioria leva. Dessa vez, a gente decidiu entre “She’s Leaving Home”, “Because” e “Eleanor Rigby”.

Vocês hesitaram em gravar esse disco de inéditas?

Hoje em dia é muito perigoso fazer um disco inédito, porque as pessoas ficam sempre comparando as novas músicas com os grandes sucessos, e, na verdade, não tem de fazer comparação. Nós só resolvemos fazer o inédito, quando sentimos que o nível de composição estava alto, estava bacana.

Qual a diferença entre o Roupa Nova de agora e o Roupa Nova de 1981, do primeiro disco?

A diferença desse novo disco é que nós estamos mais maduros. A gente está cada vez mais ouvindo, aprendendo e tocando. O Roupa Nova não tem um líder, um cara que fala mais e um cara que fala menos. A gente vai um aprendendo com o outro, aprendendo com o público e aprendendo com a vida.

O grupo já foi rotulado como “brega”, em diversos momentos da carreira. Por que você acha que isso aconteceu?

Isso aconteceu porque a gente começou como uma banda de baile e sempre estouramos com músicas românticas. E, na visão de algumas pessoas, a música romântica é brega. Eu não acho isso. Música romântica é música romântica. A crítica deveria olhar um pouquinho para trás e ver que a nossa banda, que tem quase 60 sucessos, merece só um pouco mais de respeito. Pô, a gente tem quase 30 anos de carreira!

É possível compor sobre o amor sem ser cafona?

Claro! Tem uma dosagem, uma maneira certa de não ser piegas, ao falar sobre o amor com um pouco de poesia. Não é chato ter de tocar “Whisky a Go Go” em todas as apresentações? Não é chato tocar, porque o pessoal interage tanto e o carinho da galera é tão grande que a gente fica mocionado como se fosse o primeiro show.
Publicada na Folha de Londrina (09/04/09).

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