sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

O universo sexual de João Gilberto Noll

Recebido com certa apatia pela crítica especializada, o novo livro do escritor gaúcho João Gilberto Noll, “Acenos e afagos”, repete a fórmula adotada pelo autor em “Berkeley em Bellagio” (2002), todo escrito em um único e vertiginoso parágrafo, sem separação entre os capítulos.

“Lutávamos no chão frio do corredor”, a primeira frase de “Acenos e afagos”, inicia a descrição da primeira aventura sexual do narrador – que não possui nome –, ainda quando jovem, com seu colega de colégio: “a luxúria adulta estava então lançada”.

No desenvolvimento da obra, o leitor encontra uma rica prosa poética, a partir de metáforas, sonoridades e imagens, descritas concomitantemente de uma forma marginal e erudita. Se Noll expõe os símbolos fálicos e utiliza uma linguagem antiacadêmica, por outro lado, exibe um vocabulário profusamente erudito.

O narrador de “Acenos e afagos” é um prisioneiro infeliz. No início, ele é casado, administra uma fazenda, tem um filho e não está satisfeito sexualmente. Moralmente aprisionado, o narrador passa a manter relações sexuais com desconhecidos. A sujeira é seu afrodisíaco.

O enredo rocambolesco da obra envolve um narrador homossexual constantemente excitado, que obedece a seus instintos e sente-se atraído, inclusive, por uma velha de oitenta anos e por uma cabra; um misterioso submarino alemão, onde os presentes protagonizam suas orgias e gozam o turbilhão da libido; e até a catalepsia do próprio narrador, que volta à vida graças ao seu amigo engenheiro, suspeito de envolvimento com o narcotráfico.

Mesmo quando abandona a família, para viver com o amigo engenheiro – o mesmo personagem envolvido na luta corporal do início do livro –, o narrador continua um prisioneiro. Ele aceita viver a rotina de uma mulher submissa, passiva, alienada, incumbida apenas das responsabilidades relacionadas à limpeza da casa, às refeições e ao sexo diário, no interior do Mato Grosso.

A metamorfose sexual e psicológica do narrador, que se transforma ora em mulher, ora em homem, em seu monólogo interior, é a passagem mais interessante do romance.

Entre os acenos e afagos que desencadeiam os relacionamentos amorosos, João Gilberto Noll impressiona com a atordoada introspecção de seu narrador. O universo sexual de Noll é o mesmo retratado em outros livros: escancarado, infame, amoral. No entanto, em “Acenos e afagos”, uma obra que já é forte candidata ao melhor romance de 2008, Noll retorna ainda mais poético e pornográfico.

Editora: Record
Autor: João Gilberto Noll
Preço: R$ 32,90 (206 págs.)
Avaliação: Excelente

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