sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Rafinha Bastos evita humor engajado

Durante show em Maringá, o apresentador do CQC elogia Lula mas não poupa críticas a Collor e Jarbas Vasconcellos

Padre Marcelo, pagodeiros, judeus, Xuxa e até moradores de Rondônia: todos foram alvos do comediante Rafinha Bastos, apresentador do programa televisivo CQC (Custe o Que Custar), no espetáculo humorístico intitulado A Arte do Insulto. Rafinha, que costuma satirizar o universo da política brasileira na bancada do CQC, encontrou o Teatro Marista, em Maringá, completamente lotado por jovens e adolescentes, durante as duas sessões realizadas esta semana na cidade.

“Ronaldo (o fenômeno) é tão gordo que tentou entrar na internet, e não conseguiu. Adivinhe por quê? Ele não coube”; “O programa de TV do Padre Marcelo é feito para velhinhas com Alzheimer”; e diversas outras piadas, impublicáveis, revelaram que, pelo menos no palco, política é um assunto a ser evitado. Citações sobre o atual momento político e irônicas críticas sociais – as maiores qualidades do CQC – não foram explorados como recursos cômicos.

Durante esta entrevista concedida minutos antes da apresentação, Rafinha Bastos afirma que a eleição do ex-presidente Fernando Collor de Mello (PTB-AL) para presidir a Comissão de Infraestrutura do Senado, é “uma palhaçada”, e diz que as polêmicas declarações do senador Jarbas Vasconcellos (PMDB-PE), publicadas recentemente na Revista Veja, revelam que o peemedebista está “um pouco gagá”.

Como você analisa a qualidade dos programas humorísticos veiculados na televisão brasileira?

É preciso pensar que a TV aberta é para o povo. Zorra Total e A Praça É Nossa, os dois grandes programas de humor, estão no ar durante todo esse tempo porque eles tem qualidade. Eles podem não ser atraentes para pessoas como eu, com terceiro grau completo, ensino superior e formação cultural, mas se esses programas conseguiram ficar no ar, é porque são bons.

O humor do CQC consegue cumprir uma função social?

O principal objetivo do CQC é divertir. É um humor engajado, tem uma pegada mais jornalística e aborda temas como política e economia. Eu não tinha referência de alguém que já havia misturado jornalismo com humor. Eu acho que eu consegui cumprir uma função social em algumas matérias. Eu fiz uma matéria sobre a situação das creches, em Curitiba; cheguei a fazer uma matéria sobre cestas básicas e sobre cadeias de favores. O quadro Proteste Já, no programa, também cumpre uma função social.

É fácil fazer piada em um país como o Brasil?

É ainda mais difícil, porque a concorrência é mais forte. A piada já está pronta no Brasil, e é preciso tomar cuidado para não ser repetitivo. Nada é mais engraçado do que uma sessão do Senado. O Brasil é um país rico para a comédia. O humorista só precisa ser engraçado e criativo.

Qual a sua opinião sobre o ex-presidente Fernando Collor de Mello presidindo a Comissão de Infraestrutura do Senado?

Eu realmente não entendo como esses caras voltam. Eles são meio Highlander. O Michel Temer (PMDB-SP) já está no terceiro mandato como presidente da Câmara dos Deputados. O José Sarney (PMDB-AP) também foi eleito novamente para a Presidência do Senado. O caso do Collor é uma palhaçada, é uma patifaria, é triste. A classe política está tirando sarro da nossa cara. Apareceu até um cara com um castelo!

Você acha o senador Jarbas Vasconcellos (PMDB-PE) um sujeito oportunista ou íntegro?

Ele está um pouco gagá. Ele soube da situação do PMDB a vida inteira e fez uma declaração vazia, sem apontar nomes. É corajoso, mas vazio. É preciso falar de quem se trata. Não adianta ofender de uma forma covarde. Além do mais, ninguém foi atrás, investigar do que se trata.

O presidente Lula Inácio Lula da Silva é um bom presidente?

O presidente Lula é um bom presidente que foi ajudado pelo cenário internacional, em uma época maravilhosa. Mas hoje, nós estamos vivendo tempos difíceis. Somente com o próximo presidente, vamos entender se o Lula era mesmo “o cara”.

Publicada na Folha de Londrina (12/03/09).

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